22.8.06

Justificativa pública da anulação de meu voto

Muito tem se falado nestas eleições a respeito do voto nulo, principalmente depois que a MTV Brasil veiculou uma vinheta o defendendo. De fato, o percentual de votos nulos tende a ser um pouco elevado este ano, o que causou certa preocupação aos institucionalistas. Daí a campanha do TSE veiculada na TV aberta sobre a importância do voto. Não nego tal obviedade. Basta termos um mínimo de visão histórica para notarmos que o voto foi uma grande conquista civilizacional para o povo brasileiro e um tanto quanto recente. É, sem dúvida, triste que, nem bem se assentou, o voto já seja alvo de grande descrédito.

No entanto, vi recentemente uma pesquisa afirmando que cresceu percentualmente este ano o número de jovens entre 16 e 18 anos que, não sendo obrigados a votar, tiraram seu título de eleitor. Ora, bolas! Parece haver uma contradição aí... A política não está sem credibilidade? O voto nulo não é uma ameaça? A resposta a primeira pergunta é: não de forma absoluta. A resposta a segunda é: não de forma absoluta.

Os jovens querem participar da política e, inclusive, da política institucional (nos limites da ordem jurídica do país). Apenas não querem votar em nenhum dos candidatos apresentados. O que é normal, posto que esta é uma alternativa oferecida pelo próprio sistema.

Se entrarmos no mérito da teoria da representação, chegaremos à idéia de que o voto no primeiro turno é um voto de identificação, um voto ideológico. No segundo turno, o voto é estratégico (menos pior). Ora, se não houver identificação com nenhum candidato, o que obriga o eleitor a legitimar um programa político com o qual mantém mais discordâncias do que concordâncias?

Não há o que temer. Os jovens que pretendem votar nulo fizeram questão de tirar o título! Apenas querem outra política, com P maiúsculo.

As raízes da onda de anulação do voto (que nem será tão grande assim; talvez um pouco maior que o normal entre os estratos juvenis de classe média) estão claras: o decepcionante mandato do presidente Lula. Não digo que o governo Lula foi igual ao governo tucano. Identifico alguns avanços no processo democrático, na redução da velocidade da devastação neoliberal e até mesmo algumas áreas e projetos interessantes dentro do governo. Contudo, a mudança não foi substancial e o Brasil continua caminhando alegremente rumo ao ostracismo mundial. (Não se enganem com as aparições de Lula no exterior como o presidente dos pobres do mundo inteiro!)

Enquanto China, Índia, Coréia do Sul, Chile crescem a taxas de 10, 8% ao ano, nós crescemos 3%. Enquanto as taxas de juros nacionais medem em média 8% ao ano, a nossa é 17%. Enquanto importamos TVs com tela de LCD para a elite comprar, este bem já é universalizado no Japão e nós exportamos a soja de um ou dois latifundiários. Apenas 15% dos jovens brasileiros já tiveram acesso ao computador alguma vez na vida... Imaginem! A TV mostrou alguns jovens tocando pela primeira vez num mouse, como se tivessem mal de Parkinson. E isso na zona urbana de uma metrópole. Enquanto isso, o filho de um pequeno produtor de algodão na zona rural do Missouri conversa com os amigos através do Skype em seu notebook. Meu Deus! Isso significa, simplesmente, que estamos fora da rota de desenvolvimento. Não somos o país do futuro e não estamos sequer no século XXI...

Certo. Certo. Sei que tudo isso é histórico e não é culpa de Lula. Mas este também é o argumento histórico para não fazermos nada! Falam: “Isso é assim há muito tempo.” Como quem quer falar: “Isso continuará assim por muito tempo.”.

Precisamos de revolta. Revolta por uma nova política. Política que tenha como norte o desenvolvimento triplo – econômico, social e cultural. Alckmin-ACM ou Lula-Sarney definitivamente não são parâmetros para tal projeto emancipatório. Tampouco a candidata da blusa branca de babador que odeia os gigolôs safados e vagabundos do FMI.

Pelo amor de Deus, deixem-me em paz e livrem-me destes trastes.

Meu voto não é nulo por princípio (o que seria imbecil), mas pela situação. Votarei com gosto quando surgir na cena institucional uma força política com um projeto nacional que se aproxime do desenvolvimento triplo.

Até lá, resta-nos as lutas na sociedade civil.

2 comentários:

Antonio Rimaci disse...

Muito bem justificado. Contudo, saliento que trazer o Brasil para um novo caminho está para além de avanço tecnológico: primeiro precisamos distribuir o que já temos, o que não é pouco. Quanto tivermos um país com condições de vida minimamente decentes, ai sim vejo como passo inquestionável a fuga do chamado ostracismo mundial.

Anônimo disse...

Olá.

1. A MTV não defendeu o voto nulo. Assista a parada de novo.

2. "Os jovens querem participar da política e, inclusive, da política institucional (nos limites da ordem jurídica do país)." - primeira generalização. Perdoada porque isso aqui é um blog.

3. "Os jovens que pretendem votar nulo fizeram questão de tirar o título! Apenas querem outra política, com P maiúsculo." - segunda generalização. Essa não dá pra admitir nem em blog. Quem disse que os jovens que tiraram o título pretendem votar nutlo? Quem disse que quem vota nulo quer uma outra política, com P maiúsculo?

4. "Não digo que o governo Lula foi igual ao governo tucano. Identifico alguns avanços no processo democrático, na redução da velocidade da devastação neoliberal e até mesmo algumas áreas e projetos interessantes dentro do governo." - que áreas? Que projetos? Mas discordo desde já.

5. "Enquanto China, Índia, Coréia do Sul, Chile crescem a taxas de 10, 8% ao ano, nós crescemos 3%." - Vai ver porque Lula não é presidente por lá. Vai ver que o assim chamado neoliberalismo não é esse monstro todo.

6. "Certo. Certo. Sei que tudo isso é histórico e não é culpa de Lula." - como não? Lula também não tem responsabilidade histórica? Assim até eu.

Mas vote branco. Lembra daquele papo?

Abraços.