31.8.06

Durkheim, Freud, carona, sexo e fé

Durkheim defendia que o leit-motiv da sociologia seria o fato social. Hoje entendi o que ele quis dizer ao pegar uma carona que mais me atrapalhou do que ajudou, pelo simples fato de que não consegui um meio polido de negar. Nem sempre sou tão educado, mas o fato é que havia interesses sexuais por trás desta conduta. Freud explica.

Há, pelo menos, o reconforto pelo fato de que, no dia anterior, ao ser abordado por uma integrante do Seicho-no-ie que queria me livrar do Mal, eu disse um severo e seco Não!. Ela retrucou, É de graça. E eu mais rude, Sei, sei, mas dê para alguém que não vá jogar no lixo... Ah, como me senti bem!

A grande intolerância da democracia, como diria um colega meu, é que ela impõe intolerantemente a tolerância. Ora, se alguém tem o direito de ser religioso e de pregar sua fé, eu também tenho o mesmo direito de pregar a não-fé e recusar-me ao diálogo. Sem fundamentalismos. Cada um ficando na sua, como diz a plebe.

Quanto à menina da carona... Aí é outra história...

24.8.06

Mais acerca das eleições e voto nulo

Lula avança nas pesquisas e alcança 56% das intenções de voto válido. Se a perspectiva se confirmar, ganha fácil no primeiro turno. No fim das contas, talvez seja melhor do que o retorno do tucanato. Mas mantenho firmemente a minha intenção de anular o voto. Como dito em post anterior, esta minha intenção deriva da constatação da ausência de uma força política nacional que defenda algo ao menos parecido com o que denominei desenvolvimento triplo, o único possível para nos colocarmos na rota das benesses do sistema capitalista mundial. Sim, pois do capitalismo temos apenas as desgraças: somos campeões em juros altos, analfabetismo funcional, prostituição e trabalho infantil, monopólio dos meios de comunicação, corrupção institucional dentre outros títulos nada louváveis.

Qual o equívoco na análise dos intelectuais e militantes de (sic) esquerda? Eles constroem suas análises pautadas apenas em parâmetros nacionais. Olham o passado, vêem a ditadura militar e pensam: avançamos! Basta olharmos o resto do mundo para percebermos que, não obstante esta democracia medíocre ser melhor do que a ditadura, pouco avançamos. O Brasil continua como um país inserido na divisão internacional do trabalho como exportador de commodities (produtos primários como soja, algodão, cacau, madeira, folha para o chá dos ingleses, animais para zoológicos e centros de pesquisa, trabalhadores braçais para os países centrais, prostitutas, jogadores de futebol etc). O olhar interno nos dá um panorama de ordem democrática estável que, ao ignorarmos o olhar externo, nos mantém excluídos da rota do desenvolvimento mundial.

Não farei campanha pelo voto nulo. Apenas quero uma renovação das forças políticas atuantes no cenário político nacional, o que me leva a votar nulo como manifestação individual. Chega da política da mesmice medíocre! O candidato Alckmin chega a dizer que em sua gestão vai manter e aprimorar o Bolsa Família. Aí vem Lula e diz: o Bolsa Família é uma maravilha. Para além da mediocridade em si do programa, tal fato demonstra como os principais candidatos falam sobre as mesmas coisas e defendendo as mesmas coisas. Chegamos ao ponto do governador Lúcio Alcântara (PSDB), do Ceará, trocar na propaganda eleitoral a companhia de Alckmin pela de Lula. Devido à semelhança programática, fica-se com quem está ganhando. Ora, a política é o espaço do conflito também. Onde está o conflito em termos de programas políticos na política institucional brasileira? É disto que se trata: da repolitização da política. Algo distante da massa, sei. Por isso não faço a campanha pela anulação e minha participação se resume à retórica deste blog. Tal processo precisa surgir dentre os atores políticos nacionais. E é aí que o pessimismo entra em cena.

22.8.06

Justificativa pública da anulação de meu voto

Muito tem se falado nestas eleições a respeito do voto nulo, principalmente depois que a MTV Brasil veiculou uma vinheta o defendendo. De fato, o percentual de votos nulos tende a ser um pouco elevado este ano, o que causou certa preocupação aos institucionalistas. Daí a campanha do TSE veiculada na TV aberta sobre a importância do voto. Não nego tal obviedade. Basta termos um mínimo de visão histórica para notarmos que o voto foi uma grande conquista civilizacional para o povo brasileiro e um tanto quanto recente. É, sem dúvida, triste que, nem bem se assentou, o voto já seja alvo de grande descrédito.

No entanto, vi recentemente uma pesquisa afirmando que cresceu percentualmente este ano o número de jovens entre 16 e 18 anos que, não sendo obrigados a votar, tiraram seu título de eleitor. Ora, bolas! Parece haver uma contradição aí... A política não está sem credibilidade? O voto nulo não é uma ameaça? A resposta a primeira pergunta é: não de forma absoluta. A resposta a segunda é: não de forma absoluta.

Os jovens querem participar da política e, inclusive, da política institucional (nos limites da ordem jurídica do país). Apenas não querem votar em nenhum dos candidatos apresentados. O que é normal, posto que esta é uma alternativa oferecida pelo próprio sistema.

Se entrarmos no mérito da teoria da representação, chegaremos à idéia de que o voto no primeiro turno é um voto de identificação, um voto ideológico. No segundo turno, o voto é estratégico (menos pior). Ora, se não houver identificação com nenhum candidato, o que obriga o eleitor a legitimar um programa político com o qual mantém mais discordâncias do que concordâncias?

Não há o que temer. Os jovens que pretendem votar nulo fizeram questão de tirar o título! Apenas querem outra política, com P maiúsculo.

As raízes da onda de anulação do voto (que nem será tão grande assim; talvez um pouco maior que o normal entre os estratos juvenis de classe média) estão claras: o decepcionante mandato do presidente Lula. Não digo que o governo Lula foi igual ao governo tucano. Identifico alguns avanços no processo democrático, na redução da velocidade da devastação neoliberal e até mesmo algumas áreas e projetos interessantes dentro do governo. Contudo, a mudança não foi substancial e o Brasil continua caminhando alegremente rumo ao ostracismo mundial. (Não se enganem com as aparições de Lula no exterior como o presidente dos pobres do mundo inteiro!)

Enquanto China, Índia, Coréia do Sul, Chile crescem a taxas de 10, 8% ao ano, nós crescemos 3%. Enquanto as taxas de juros nacionais medem em média 8% ao ano, a nossa é 17%. Enquanto importamos TVs com tela de LCD para a elite comprar, este bem já é universalizado no Japão e nós exportamos a soja de um ou dois latifundiários. Apenas 15% dos jovens brasileiros já tiveram acesso ao computador alguma vez na vida... Imaginem! A TV mostrou alguns jovens tocando pela primeira vez num mouse, como se tivessem mal de Parkinson. E isso na zona urbana de uma metrópole. Enquanto isso, o filho de um pequeno produtor de algodão na zona rural do Missouri conversa com os amigos através do Skype em seu notebook. Meu Deus! Isso significa, simplesmente, que estamos fora da rota de desenvolvimento. Não somos o país do futuro e não estamos sequer no século XXI...

Certo. Certo. Sei que tudo isso é histórico e não é culpa de Lula. Mas este também é o argumento histórico para não fazermos nada! Falam: “Isso é assim há muito tempo.” Como quem quer falar: “Isso continuará assim por muito tempo.”.

Precisamos de revolta. Revolta por uma nova política. Política que tenha como norte o desenvolvimento triplo – econômico, social e cultural. Alckmin-ACM ou Lula-Sarney definitivamente não são parâmetros para tal projeto emancipatório. Tampouco a candidata da blusa branca de babador que odeia os gigolôs safados e vagabundos do FMI.

Pelo amor de Deus, deixem-me em paz e livrem-me destes trastes.

Meu voto não é nulo por princípio (o que seria imbecil), mas pela situação. Votarei com gosto quando surgir na cena institucional uma força política com um projeto nacional que se aproxime do desenvolvimento triplo.

Até lá, resta-nos as lutas na sociedade civil.

21.8.06

O Depois

Dores e mal-estar se foram.
Efêmeras que são.
Ou que foram.
Tanto foram que foram.
E eu fiquei.

(Uma pena!)

19.8.06

O limite da decadência

- Vi em outra comunidade e achei muitu legal!
a pessoa acima eh lindo(a),bonito(a),pegavel ou NEM FUDENDO!?

- Linda Bonita e Pegavel.

- NEN FUDENDU!!!!
credu eim xuta q é macunba!(nada contra e muito menos a favor tha )

- pegavel....vc deve ser meio chata pelos sem coments

- É SEMPRE O MESMO MENINO?
hahahauihiuashisuahsa
CACETE.

- Aff nem fudendo! heheh

(...)

13.8.06

Globo e Al-Jazeera

A Globo teve de levar ao ar um vídeo do PCC.
Mantidas as devidas proporções, a emissora teve seu dia de Al-Jazeera.

Há uma política dividida no Brasil: a legal (Congresso, Judiciário) e a ilegal (PCC, Congresso, Judiciário etc). Ambas se relacionam e se retroalimentam. De vez em quando até a Globo se vê às voltas com a realidade.

Consolo pobre, mas ainda consolo. Para um verme, ver quem se encaminhava para esmagá-lo tropeçar já é uma satisfação.

Lula em Salvador - Diário de campo

Fui à caminhada de Lula em Salvador com a curiosidade típica de um sociólogo. Os fatos presenciados, os discursos ouvidos e a multidão emocionada me levaram a tecer alguns comentários.

  1. Lula é o maior fenômeno político nacional desde Vargas e Kubistchek. Isto não necessariamente significa algo positivo.
  2. Os escândalos políticos ocorridos ao longo do governo Lula levaram a população à descrença em mudanças estruturais na sociedade e não à descrença no carismático presidente. A lógica de pensamento é a seguinte: o Brasil é isso mesmo, não tem como mudar; Lula tenta, mas sozinho não pode fazer nada. Há uma certa razão nisso, mas posto desta forma o conservadorismo opcional, além dos constrangimentos estruturais, do governo Lula é legitimado: o presidente continua em alta enquanto nada (ou muito pouco) muda.
  3. A militância partidária continua com a cabeça nas nuvens e incapaz de enxergar a realidade a um palmo do nariz. Quando o retrógrado Geddel Vieira Lima subiu ao palco e discursou em defesa de Lula – Wagner algumas vaias se fizeram ouvir. Ora, Geddel faz parte, agora, do bloco de Lula e estava no palco devido ao convite presidencial. Mas os ingênuos militantes não conseguem entender que a realidade que eles vivem em seu cotidiano, em DCEs e Sindicatos, quando discutem até mesmo (sic) a revolução já foi há muito tempo deixada para trás pelos dirigentes de seus respectivos partidos, a despeito de seus respectivos programas.
  4. A política em sua versão “democracia representativa liberal burguesa” está, hoje, tão distante do cotidiano que as pessoas sentem-se bem pelo simples fato de ver o presidente.
  5. A esquerda está completamente submissa às formas espetaculares (marketing e discurso) de se fazer política. Os fogos de artifício e os balões de Alice Portugal e Daniel Almeida (ambos do PCdoB) demonstraram bem isso. Os discursos dos candidatos, por sua vez, se pautavam em um passado histórico de lutas nacionais arbitrariamente apropriado por quem não luta (e ao invés disso permanece em confortáveis gabinetes com verbas até para contratar prostitutas) e em coisas banais, como quando o presidente pediu que todos abraçassem seus pais hoje (sic).

Contra minha vontade, meu voto se encaminha com suas próprias pernas em direção à anulação. Quem sabe algum dia a política não volta a ser politizada...

10.8.06

Monotonia

Lambam meus pés por adivinhar o óbvio. Em onze minutos de entrevista no Jornal Nacional, o atual presidente e candidato Lula se viu nove minutos interrogado acerca da corrupção.

Assim não tem graça, Bonner.

Pra ter graça eu mando os links abaixo:

bonner imitando clodovil

bonner magoadinho

Uma boa noite!

8.8.06

Jornal Nacional e Eleições 2006 - Resposta pública

Um amigo meu me mandou um scrap mais ou menos assim no Orkut:

"Você viu a entrevista de Alckmin ontem (07/08/2006) no Jornal Nacional? Os âncoras o colocaram contra a parede e perguntaram sobre escândalos de corrupção que eu nem mesmo sabia. Fiquei um pouco intrigado, gostaria de saber sua análise disso. Valeu. Até mais..."

Resolvi responder publicamente.

Quando Lula for entrevistado vocês verão a mesma ênfase da Globo nos casos de corrupção.

São três os motivos principais:

a) A Globo, desde os casos da manipulada cobertura das Diretas Já e do editado debate Lula-Collor, vem mudando paulatinamente seu modo de cobrir a política nacional. É o que se chama Padrão Globo de Jornalismo, uma idéia copiada da norte-americana CNN. Tem apostado muito mais em seu poder de notícia e em seu poder financeiro para ter um peso político perante os candidatos, ao invés da manipulação aberta de imagens e fatos. Tanto a estratégia é boa que hoje o ministro das comunicações do governo Lula é um ex-funcionário (mas ainda ligado) da Globo e ex-âncora do Jornal Nacional, Hélio Costa. Daí a Globo poder se dar ao luxo de rodar uma circular a todas as suas filiais regionais pedindo moderação na campanha eleitoral e avisando que não tolerará manipulações. Recado claro às TVs Bahias da vida que, não custa lembrar, durante a campanha pela cassação de ACM em 2001, quando houve o episódio da invasão da UFBA pela tropa de choque da PM nem sequer noticiou o caso. Mas o Jornal Nacional, sim, e com imagens de outras emissoras, uma vez que a TV Bahia nem sequer estava presente no local. Foi um momento de crise entre os Marinho e os Magalhães. A Globo tem apostado na modernização, inclusive na modernização da dominação.

b) O escândalo do “mensalão” deixou os brasileiros desanimados com a política, uma vez que haviam depositado em Lula a esperança de uma mudança de paradigma no próprio modo de se fazer política. O Padrão Globo incita a emissora também a falar o que o público quer ouvir, em uma tentativa (muito bem sucedida) de criar uma identidade entre emissora e telespectador. O discurso e os questionamentos anti-corrupção hoje estão em alta.

c) A Globo pode se dar ao luxo de mostrar um pouco de imparcialidade, uma vez que os dois candidatos mais cotados à eleição representam projetos políticos que não afetam os interesses do monopólio global.

Neste termos, é fácil ser imparcial. E até mais lucrativo.