25.9.06

O espetáculo deprimente e deprimido

A revista CartaCapital desta semana traz uma boa reportagem que tenta explicar a vitória cada vez mais perto do candidato Lula, apesar dos diversos bombardeios midiáticos com denúncias acerca de irregularidades e corrupção em seu governo ou envolvendo petistas. Fugindo das explicações imbecis tão correntes no meio pseudo-intelectual, como a explicação “Lula ganha porque o povo é ignorante”, a revista tenta demonstrar como se processa a racionalidade do nosso eleitorado. O eleitor da massa vota em Lula apesar da enxurrada de denúncias contra seu governo por considerar que este é melhor do que anteriores e não por um cinismo que domina o povo brasileiro. Mas o mais interessante é percebermos que a mídia não manipula a massa a seu bel-prazer: a despeito do que gostaria a mídia e contra seus esforços, a massa vota em Lula. Sorte da nossa classe dominante que Lula, apesar de ser menos retrógrado do que Alckmin, não afeta a estrutura social interna nem modifica a inserção econômica subalterna do Brasil na divisão internacional do trabalho. Nem tampouco a política perdeu seu caráter de despolitização no governo Lula. Seguimos nosso caminho através de uma política mais espetacular do que nunca.

E é sobre essa despolitização que, na verdade, eu queria falar. Ao passear de carro pela cidade no domingo me deparei com o costumeiro cenário pré-eleitoral: muros pintados com nomes dos candidatos, outdoors políticos, distribuição de panfletos e os porta-bandeiras remunerados. Da direita à (sic) esquerda, a indiferenciação é absoluta na campanha eleitoral: candidatos do PCdoB e PT dividem “democraticamente” o mesmo muro com candidatos do PFL e PP. Nada de propostas e até o nome do partido aparece, quando aparece, apenas de soslaio. O que interessa é divulgar nomes. Apenas isso. O argumento da (sic) esquerda é deprimente: “a lógica estrutural da eleição é essa; no poder nós mostramos em que diferimos”. Ora, não seria a eleição, segundo sua própria definição, o momento de se demonstrar publicamente os diversos projetos para que o eleitorado escolhesse o projeto nacional que mais lhe agradasse? A questão é que os projetos hoje são muito pouco diferenciados: diferenciam-se ao nível mais superficial, mas assentam-se sobre a mesma estrutura (tal é a diferenciação Lula – Alckmin). E a estrutura fundamental é o espetáculo.

No entanto, o espetáculo já dá mostras de um cansaço – ao menos no âmbito da política. Cansaço que verifiquei nos rostos dos porta-bandeiras remunerados que encontrei nas ruas. A fisionomia não enganava: a tristeza de ter que passar a tarde de domingo segurando uma bandeira que lhe é completamente alheia para descolar uma grana que não lhe permite mais do que comprar um pão e leite ou, a depender, uma cachaça. As pessoas que pela rua passavam também demonstravam o mesmo ânimo ao receber os panfletos no sinal fechado: nem olhavam, apenas dobravam à espera da primeira oportunidade de jogá-lo no lixo.

Tal é a cara atual da nossa política: deprimida e deprimente, enquanto caminhamos alegremente à vitória racional de Lula no primeiro turno...

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