11.9.06

Cinco anos depois...

O terrorismo visa o capital, mas se engana de inimigo e ao fazer isso visa seu verdadeiro inimigo: o social. O terrorismo responde com um ato hiper-real, imediatamente destinado às ondas concêntricas dos meios de comunicação e da fascinação, imediatamente destinado não a alguma representação ou consciência, mas à desaceleração mental por contiguidade, fascinação e pânico, não a reflexão nem à lógica das causas e dos efeitos, mas à reação em cadeia por contágio. Desprovido de sentido e indeterminado como o sistema que ele combate, em que ele se insere como um ponto de explosão máxima e infinitesimal e, por isso, profundamente homólogo ao silêncio e à inércia das massas.



Não se pode dizer que a era das maiorias silenciosas produz o terrorismo. É a simultaneidade dos dois que é assombrosa. Acontecimento que marca o fim do político e do social.



O terrorismo não visa de modo algum desmascarar o caráter repressivo do Estado (essa é a negatividade provocadora dos grupelhos, que aí encontram uma última oportunidade de serem representativos aos olhos das massas). Ele propaga, por sua própria não-representatividade e por reação em cadeia (não por demonstração ou tomada de consciência), a evidência da não-representatividade de todos os poderes. Aí está sua subversão: ele precipita a não-representatividade injetando-a em doses infinitesimais mas bastante concentradas.


O terrorismo violenta o Sentido, não detém legitimidade social nem apresenta prolongamento político, não tem história alguma. Seu único reflexo é sua narração, sua onda de choque nos meios de comunicação. Ora, essa narração não é de natureza objetiva e informativa. Talvez esteja numa ordem, como o terrorismo, que não é do Sentido nem da representação - talvez mítica, sem dúvida simulacro.



O terrorismo atual, inaugurado com a tomada de reféns e o jogo adiado da morte, não tem objetivo (se tem é justamente o meio mais ineficaz de atingi-los) nem inimigo determinado. Sua cegueira é a réplica exata da indiferenciação absoluta do sistema, que há muito tempo não distingue os fins dos meios, os carrascos das vítimas. Seu ato visa, na indistinção assassina da tomada de reféns, exatamente o produto mais característico de todo o sistema: o indivíduo anônimo e perfeitamente indiferenciado, o termo substituível por qualquer outro. Os inocentes pagam o crime de não serem nada, de serem sem destino, de terem sido despossuídos de seu nome por um sistema também anônimo, de que eles se tornaram, então, a mais pura encarnação.



(Excertos retirados do livro À sombra das maiorias silenciosas: o fim do social e o surgimento das massas, de autoria do sociólogo francês Jean Baudrillard)

Um comentário:

Anônimo disse...

Por falar nesse livro, acredito eu que ele ainda seja meu! =D
saudades...
beijo