25.7.06

Mais uma guerra...

Israel avança sobre o Líbano. E quando digo sobre o Líbano me refiro também aos seres vivos que vão se tornando mortos. Mas, como se costuma pensar, vidas árabes ou orientais valem menos do que as nossas vidas brancas, ocidentais e de classe média. A imprensa mundial demonstra pateticamente um sentimento de desconforto e piedade ao qual verdadeiramente não dão lugar em sua ânsia pelo "furo" do dia. Sim, pois amanhã ninguém irá lembrar que uma guerra aconteceu e que seres humanos morreram naquilo a que Bush simpaticamente e de boca cheia chamou de bullshit. O mundo da vida cotidiana segue impecável até que os senhores do mundo decidam que é hora de romper o marasmo para pôr em uso os arsenais militares e justificarem, dessa forma, os altos orçamentos na área de defesa mesmo no mundo pós-Berlim, onde já não há claros inimigos no horizonte. Daí o inimigo não ser mais um Estado, mas os virtuais terroristas ou um grupelho como o Partido de Deus (Hezbollah). O cotidiano é efêmero como efêmera é a vida na visão estratégica da divisão mundial do poder e do lucro. Mas a morte haverá de ser absoluta, eis o nosso reconforto. Em homenagem aos mortos no Líbano (e em todos os lugares do mundo, pois não faltam pessoas a morrer) posto aqui um poema.


A morte absoluta

Morrer.
Morrer de corpo e de alma.
Completamente.

Morrer sem deixar o triste despojo da carne,
A exangue máscara de cera,
Cercada de flores,
Que apodrecerão - felizes! - num dia,
Banhada de lágrimas
Nascidas menos da saudade do que do espanto da morte.

Morrer sem deixar porventura uma alma errante...
A caminho do céu?
Mas que céu pode satisfazer teu sonho de céu?

Morrer sem deixar um sulco, um risco, uma sombra,
A lembrança de uma sombra
Em nenhum coração, em nenhum pensamento,
Em nenhuma epiderme.

Morrer tão completamente
Que um dia ao lerem o teu nome num papel
Perguntem: "Quem foi?..."

Morrer mais completamente ainda,
- Sem deixar sequer esse nome.

Manuel Bandeira

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