Talvez vossas senhorias julguem demasiado sensacionalista a análise seguinte. Mas de antemão notifico que, se o rótulo de sensacionalismo proceder, trata-se de um sensacionalismo que não objetiva vender mais exemplares a partir de uma manchete chamativa, mas sim, o fruto de uma grandiosa desolação. O fato é que, rondando pelos diversos websites que cobrem o cotidiano do massacre do povo libanês pelos fundamentalistas de Israel e dos Estados Unidos da América, encontrei uma foto um tanto atípica: uma criança desenhando em um míssil em plena casamata do exército israelense, já na fronteira com o Líbano. Abaixo da foto a legenda: “criança judia desenha em míssil destinado aos inimigos”. Tal cena lembrou-me o adestramento dos jovens e crianças pelos nazistas e stalinistas no século XX ou as guerrilhas africanas que também utilizam crianças em suas forças armadas. No entanto, o Estado israelense orgulha-se de seu estágio civilizacional, de suas Luzes, em contraposição à barbaridade manifestada pelos fanáticos do Hezbollah. Mas, em tempos de guerra, os parâmetros civilizacionais são deixados de lado e o adestramento retorna à cena de maneira explícita: “Vai, filhinha, desenhar no míssil que o nosso país vai mandar lá pro altão, bem perto do céu, e que vai nos proteger dos homens maus que querem acabar com o nosso povo e a nossa fé...”
Sempre se costuma dizer que as crianças são sinceras e inocentes e que, por essa razão, as ofensas oriundas delas são facilmente perdoáveis. Talvez pensando nisso tenha surgido a idéia dos desenhos infantis nos mísseis, tipo aqueles bonequinhos de palitinhos... Sim. Quem sabe ao ter uma perna arrancada, um filho assassinado ou uma casa pelos ares os libaneses não pensem: “Deixa pra lá... Olha que ursinhos bonitinhos desenhados...”
Mas o objetivo é claro: familiarizar, através destes ritos tribais dos desenhos em mísseis, o povo israelense com uma luta de longo prazo e que demandará o apoio incondicional das novas gerações à causa sionista. A meta: jogar os palestinos ao mar e esvaziar as zonas imediatas das fronteiras israelenses afim de garantir uma zona limítrofe à la muro de Berlim.
Enquanto isso Koffi Annan e sua patética ONU lamentam o fim do Food for Oil, programa que lhes garantiu uma vida agradável enquanto Saddam Hussein esteve no poder, e clamam pela paz com a mesma efetividade que o caquético papa (aliás, o novo papa não é caquético – esqueci-me que o gorducho já morreu). E que este libelo não soe como uma apologia à luta do Hezbollah. Trata-se de um grupo de fanáticos tão merecedor de meu respeito quanto Bush, o papa ou os especuladores internacionais.
Todas as épocas da história foram marcadas por lutas bárbaras e sanguinárias. Mas sempre houve um lado com o qual se podia criar uma identificação, um lado que, equivocadamente ou não, lutava pela liberdade e igualdade. A diferença, agora, reside no fato de que não há lado para o qual torcer. A esperança é que os Estados Unidos, o Irã, a China e a Rússia entrem na guerra e acabem com a história humana de uma vez por todas.